23 juin 2018

Vient de (re)paraître (au Brésil)



Mara Lobo
(Pagu)
[Patrícia Galvão]
Parque industrial
(romance proletário)

prefácio de
Augusto de Campos

notas & posfácio de
Antoine Chareyre

posfácio de
Kenneth David Jackson





São Paulo
Editorial Linha a Linha
2018

Preço de capa : R$ 55

Livro disponível
(av. São Luís, 187 – São Paulo)




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(São Paulo, 23 de Junho de 2018)

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No blog Bois Brésil & Cie :

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Une soirée avec Pagu

Lancement du livre Parque industrial de Patrícia Galvão (Pagu)
à la librairie Tapera Taperá (São Paulo), 23 juin 2018

Débat « Entre golpes : mulher e política na literatura brasileira, de 1933 a 2018 »
avec Ana Rüsche & Paulo Ferraz
modéré par Marília Moschkovich (éditions Linha a Linha)

20 juin 2018

[Petite chronique du mouvement international des livres & des idées : un cas d’import-export]


L’intérêt, parmi tant d’autres, quand on s’efforce de traduire & introduire des auteurs méconnus si ce n’est de seconde zone, & des textes négligés de l’avant-veille, emblématiques ou marginaux, emblématiquement marginaux — & dont il arrive d’ailleurs, au moment même où l’on entreprend de les traduire, qu’ils ne soient plus édités (ou mal) dans la langue originale, pour ne rien dire des hapax éditoriaux localisés & exhumés coûte que coûte —, l’intérêt, donc, c’est que l’on a parfois la satisfaction intellectuelle de voir ces auteurs-là suivre leur bout de chemin posthume, & ces œuvres-là réapparaître, reparaître dans leur pays d’origine, & même, parfois, qui plus est, de se trouver personnellement associé à l’entreprise de réédition — signe, peut-être, qu’on ne fait pas tout à fait n’importe quoi. Ça circule dans tous les sens & c’est très bien comme ça.

Joie & fierté, donc & tout d’abord, de voir paraître ces jours-ci, au Brésil, la 5e édition qui est aussi la 4e édition posthume qui est aussi la 1re édition critique en portugais de Parque industrial, ce si singulier romance proletário de la fascinante Pagu (Patrícia Galvão, 1910-1962), une absolue rareté d’abord autoéditée presque clandestinement, sous le pseudonyme Mara Lobo, en 1933, puis reprise en 1981, 1994 & 2006 — il revenait de loin, ce petit livre, & comme on le voit, le rythme des rééditions s’accélère drôlement !

Joie & fierté, non moins, d’avoir comme qui dirait contribué à cette belle & nécessaire publication, comme ça, en donnant aux lecteurs brésiliens une version revue & corrigée, augmentée & adaptée, de la postface & des notes conçues initialement pour l’édition française (2015), l’ouvrage ayant connu par ailleurs des traductions en anglais (1993) — Kenneth David Jackson est également de la partie —, en croate (2013) & en espagnol (2016).
(Un amical & confraternel coup de chapeau à Daniel Lühmann, qui s’est chargé, dans une large mesure, de mettre en bel & bon portugais mes quelques considérations sur l’apparition & les enjeux de ce premier roman prolétarien (& féministe) de la littérature brésilienne, influencé par le meilleur de la prose moderniste.)

Forte émotion, aussi, à l’idée d’en partager le sommaire avec Augusto de Campos, qui livre ici une préface inédite, lui sans qui Pagu serait sans doute restée dans les limbes de l’histoire littéraire & culturelle, dans l’ombre maudite de la mémoire politique brésilienne, et qui est aujourd’hui une légende, & un exemple.

Gratitude envers l’initiative de Marília Moschkovich des éditions Linha a Linha, cette « première maison d’édition féministe au Brésil » qui avec pareil titre ne pouvait mieux inaugurer son catalogue, sous un label, « Carolina », expressément dédié aux écritures féminines & aux questions de genre, aux voix marginales & discriminées.

& puis, tant qu’on y est : amitiés volontiers renouvelées à Juliette Combes-Latour & aux éditions Le Temps des Cerises qui, ayant publié tantôt la version française du roman (joliment saluée par la critique), se trouvent contribuer de la sorte, indirectement, à l’histoire de l’édition brésilienne. Pour une petite maison militante cofondée par Jorge Amado — cet autre pionnier du roman social brésilien —, c’était bien la moindre des choses…

Revoilà donc, lisible de tous, portée par un geste éditorial concerté & ouvertement militant, une fiction efficace, brute & brutale, qui conjugue activisme communiste & revendications féministes : un brûlot révolutionnaire qui a de quoi agiter les esprits dans le Brésil de 2018, en proie à toutes les régressions morales, politiques, sociales & culturelles !


N.B. : & les lecteurs français, eh bien qu’ils se jettent, si ce n’est fait, sur l’édition française :


Ça se trouve, en librairie.

Mais uma vez sobre Pagu e seu romance proletário

Parque industrial de Mara Lobo,
aliás Patrícia Galvão, aliás Pagu
por Paulo Ferraz

Por um acaso alfarrábico, li às vésperas do Primeiro de Maio o romance Parque Industrial da Pagu, publicado em 1933, sob o pseudônimo de Mara Lobo, e que não mereceu então um debate crítico mais profundo, salvo algumas notas na imprensa, entre elas uma publicada em 23.01.1933 no Jornal do Brasil pelo acadêmico João Ribeiro que a saudava e enaltecia sua estreia com “um livro de grande modernidade pelo assunto e pela filosofia”, considerando-o um “panfleto admirável de observações e probabilidades”. Com o passar do tempo acabou praticamente esquecido com algumas escassas referências acadêmicas em geral relacionadas à atividade política na literatura, por vezes em comparação aos livros de Jorge Amado do mesmo período.

O romance de Pagu talvez não chamasse tanta atenção para exigência estética da burguesia modernista, já que a narrativa é sempre direta, com cenas curtas e personagens um tanto esquemáticas que cumprem papeis específicos, prestando-se a cumprir certa sina dentro da estrutura de opressão social na qual a narrativa se insere. Mas não se trata de “exigência burguesa”, o livro foi escrito para operários suburbanos da década de 1930, sua função era a de fazer da literatura uma atividade comprometida, a qual chamamos pejorativamente de panfletária. Mas aparentemente seu panfleto desagradou até os comunistas, já que há pouco Marx (e quando há o didatismo por meio de exemplos, de fato, prejudica a forma) para muita realidade pós-escravista em nosso parque industrial que mais parecia uma fazenda com teares e chaminés. A despeito de eventuais dúvidas quanto a sua função política, Geraldo Ferraz não poupou em classificar a obra como “um romance de sentido revolucionário. Para fazer isso, a autora selecionou alguns elementos e realizou numa forma sempre interessante, um trabalho notável, na sequência episódica da narrativa. (...) Não é mais literatura sambinha de Mário de Andrade Conservatório. Bobagem de Coelho Neto pró prêmio Nobel. Xaropes ingleses de Machado de Assis. É a condição humana em que se enquadram as relações do capital, na luta em perspectiva” (Correio de São Paulo, 7.01.1933)

Ainda assim, em meio a um texto aparentemente didático, diria que há um eco da poética oswaldiana, as frases curtas têm como centro a ação ou um elemento essencial do ambiente, que funciona como síntese, sem se importar tanto com a descrição. Em favor de uma certa velocidade, Pagu emprega cortes abruptos de uma cena para outra, às vezes pequenos quadros justapostos, que dão um ritmo da narrativa muitas vezes próximos ao de um poema em prosa, tanto que na seleção de sua obra que Augusto de Campos preparou, ele pinçou passagens que se prestam justamente a essa função. Mas há algo que nem em Oswald se encontra, a violência física também se reproduz numa violência vocabular que registra as ofensas, o palavrão, a falta de pudores com que as personagens falam de seus corpos ou mesmo do sexo, que não é insinuado, sugerido, está presente na forma consentida ou não.

“— Eu só me caso com trabalhador.
— Sai azar! Pra pobre basta eu. Passar a vida inteira nesta merda” (...)
“Que importa morrer de bala em vez de morrer de fome!” (...)
“Peitos propositais acendem os bicos sexualizados” (...)
“Os professores penetram nas classes depois de falar muito sobre crise, Sovadinhos. Recalcados. No meio de tanta menina coxuda e bonita!” (...)
“Todas as meninas bonitas estão sendo bolinadas.” (...)
“Sabe? Não quero saber de uma puta!” (...)
“Por que nascera mulata? é tão bonita. Quando se pinta então. O diabo é a cor. (...) Por que os pretos têm filhos?” (...)
“— Abortar? Matar o meu filhinho?” (...)
“Psiu! Benzinho! Vem cá! Te dou o botão... Aumenta pouco a pouco o vocabulário erótico” (...)
“Eu prefiro a corcunda porque ninguém quer. Essa ao menos é limpa!” (...)
“— Não chegue perto. Te pego doença. Se você visse! Minha boceta é um buraco!
— Ora boba! Eu também estou podre! Vem comer comigo! Xii! Caraio de boia! Tenho vontade de meter essa porcaria no queixo do carcereiro. Todo dia esse macarrão fedido. Filho da puta!”

Parque Industrial é um romance proletário, sem dúvida, entretanto é preciso adicionar uma outra orientação do discurso que lhe é inerente, é um romance proletário e feminista, e esse diferencial é o mais significativo de sua obra, basta voltar às frases citadas acima, suas personagens são em geral as jovens da periferia, moradoras de cortiços na Penha, de vilas operárias da Zona Leste, trabalhadoras cotidianamente humilhadas nas fábricas de tecidos do Brás ou costureiras da Barão de Itapetinga. Algumas notas contemporâneas refutavam justamente os desvios vocabulares, que fazia do romance impróprio para alguns leitores, e outros chegaram a considerá-lo pornográfico. Murilo Mendes ao resenhar o livro para o Boletim de Ariel, chegou a pôr em dúvidas as intenções revolucionárias de Pagu, chamando o livro de “reportagem impressionista” de uma autora pequeno burguesa, para quem a revolução seria resolver a questão sexual... Embora fosse uma forma de diminuir sua proposta, a leitura de seu romance deixa clara que a revolução haveria de passar por uma emancipação feminina. Por serem mulheres (algumas mulatas, é importante que se diga), as relações de trabalho são ainda mais violentas que as prescritas pelo manual do Partido, que seguramente não dizia nada sobre assédio sexual, violência doméstica, abandono, aborto, prostituição, crianças pobres fora das escolas, trabalhadores analfabetos. Talvez aí esteja a importância dessa obra, é uma narrativa com as “cores” do Brasil colonial em pleno século XX, com desvios sociais que só podem existir onde sequer há a noção de coletividade, agravando as relações hierárquicas. Em mais de um momento a palavra “escravo” aparece em substituição a “trabalhador”, o que seguramente evidencia um modo não dogmático de ver as relações de classe no país e as formas de combatê-las.

A prosa dos anos 1930 tem características sociais e políticas claras, mas na sua quase totalidade as obras que ilustram o período são as ambientadas no sertão nordestino, onde a marca da opressão social se manifestava na seca, no engenho, no coronel, um Brasil “regional” que parecia então talvez um fóssil. Já o romance urbano, com antecedentes num Machado de Assis ou num Lima Barreto, que tivesse operários e pobres como protagonistas não mereceu a mesma atenção da crítica, tal como mereceu da polícia política do Getulio Vargas, e não falo só no Parque Industrial, penso em O Gororoba, de Lauro Palhano, também ignorado em sua importância para uma narrativa popular no Brasil. Pagu era uma militante que não encontra similar entre os intelectuais nacionais do modernismo, alguém capaz de enfrentar fisicamente — e armada segundo os relatos — um bando de alunos de direito do Largo de São Francisco que queriam empastelar a redação de O Homem do Povo, tendo pago por isso o alto preço do encarceramento e do ostracismo das editoras e seus contemporâneos. Um perfil da época, descreve-a como “o tipo mais interessante de mulher que o Brasil produziu. Bonita, inteligente, livre de preconceitos (...). Com aquele gênio e aquelas manias, Pagu forçosamente deveria ser comunista. (...) Somente nós, parasitas de sangue de barata seremos capaz de ver o que Pagu viu e ficar calados. Ela não. Ela viu e falou. Gritou. Esbravejou. Bateu-se como uma leoa pela causa. Ela que podia, com sua beleza, conquistar milionários, preferiu conquistar os miseráveis. Ela que poderia viver no luxo, preferiu viver no simples. Que podia andar de sedas, anda em modesto vestido de zephir. Pagu fuma. Anda como homem, de passo firme. E diz os nomes feios que os homens dizem. É um tipo original, em suma, essa Pagu.” (O Malho, 15.04.1933) Em Parque Industrial, ela não se exime de retratar polícias infiltrados, operários dedos-duros e poetas “lacaios” dos capitalistas ilustrados que financiavam a modernização em São Paulo (“como não hei de ser comunista se sou moderna?” diz uma caricata D. Finoca, velha protetora das artes novas, que bem poderia ser uma D. Olivia Guedes Penteado), um único personagem burguês que acaba se convertendo à causa operária, capaz de abandonar o Hotel Esplanada e vestir as roupas do trabalhador, acaba sendo acusado de divisionista e trotskista, não merecendo nem mesmo a compreensão da militante que o acolheu em sua cama.

Depois dos anos 1940, depois de se desligar do Partido Comunista, Pagu seguiu sua militância privada, escrevendo e traduzindo, até morrer praticamente esquecida em 1962, tendo que esperar por quase duas décadas que um Augusto de Campos a resgatasse em todo o seu valor, por sinal, Augusto chama Parque Industrial de “a última pérola modernista engastada na pedreira do nascente romance social dos anos 30, do qual é um excêntrico e atrevido precursor”. Mas ainda segue pouco reconhecida em sua importância no processo de modernização da literatura brasileira e dos próprios intelectuais do século XX. Nesse momento em que mais uma vez a burguesia parece dar as costas ao país, voltarmos ao exemplo Parque Industrial talvez nos ajudasse a entender o papel dos escritores nesse cenário, ainda mais hoje quando além dos escritores egressos da burguesia, cada dia mais surgem aqueles nascidos nas periferias que Pagu descreveu e que desde então seguem praticamente ausentes do imaginário literário nacional.

*

Nota: Paulo Ferraz participará no debate “Entre golpes: mulheres e política na literatura brasileira, de 1933 a 2018”, com Ana Rüsche, Augusto de Campos (a confirmar) e Marília Moschkovich (mediação), promovido pela editora Linha a Linha na ocasião do lançamento da nova edição de Parque Industrial, dia 23/06 às 16h na Tapera Taperá, Av. São Luís, 187 – 2° andar, loja 29 – República – São Paulo.

16 juin 2018

Les couvertures de la littérature prolétarienne



José Mancisidor
[1894-1956]
La ciudad roja
(Novela proletaria)
[roman]
Jalapa, Editorial Integrales, 1932
13x19,5 cm, 222 p.

Couverture de Leopoldo Méndez (1902-1969).

Pas d’achevé d’imprimer, pas de justification de tirage.


[Traduction française en préparation — pour l’éditeur inconnu.]

Les couvertures de la littérature prolétarienne



Lorenzo Turrent Rozas
[1903-1941]
Hacia una literatura proletaria
[essai, suivi d’une anthologie collective]
Xalapa, Ediciones Integrales, s. d. [1932]
ca. 12x19 cm, xxii-83 p.

Ouvrage sorti de l’imprimerie La Económica (Jalapa), propriété de Ciro Flores Páez, achevé d’imprimer le 10 octobre 1932 par l’ouvrier Manuel Morales. Sans justification de tirage.

Au sommaire, après l’essai-titre, « 7 cuentos proletarios » : Enrique Barreiro Tablada, « Contra el embajador » ; Álvaro Córdoba, « Transición » ; Germán List Arzubide, « Pared de adobes » ; José Mancisidor, « El sargento » ; Consuelo Uranga, « Un crimen » ; Mario Pavón Flores, « El camarada Gerardo Uroz » ; Solón Zabre, « El huelguista ».


[Traduction française en préparation — pour l’éditeur inconnu.]

Ainda sobre Pagu e seu romance proletário


Logo em breve, cada um poderá fazer sua própria leitura…

15 juin 2018

Arqueles Vela & « le roman inédit du stridentisme »

Tandis que l’on parle tant & plus de retraduction des classiques, les mêmes, toujours les mêmes, arpentons donc les terrains vagues & cultivons la diversité, chérissons aussi la rareté que rien n’indique à un facile commerce & débusquons même les hapax éditoriaux !
Avec ce roman d’Arqueles Vela, par exemple.
1927-1977 : pendant 50 ans inédit en espagnol & jamais repris. 2027 : bel horizon pour une traduction française...

…il n’y a pas de protagonistes ;
mais des antagonistes…
Le manuscrit introuvable

Avertissement

C’est la première fois qu’un livre posthume — le livre que l’on écrit après la mort, selon la définition transcrite dans le manuscrit introuvable — est publié en toute logique, car, conformément à ses préceptes, l’homme meurt plus d’une fois au cours de son existence…

Ainsi, le texte que nous offrons à présent fut commencé à Mexico, en 1925, quand le grand maître et philologue Pablo González Casanova, à qui l’on racontait la réalité de l’un des chapitres, suggéra à l’auteur d’en composer l’histoire complète, et c’est ainsi que débuta l’histoire…

Cette année-là, l’auteur, bousculé par des vicissitudes sentimentales, se sentit forcé de voyager, et comme, selon le vieil apophtegme, voyager c’est mourir un peu… l’auteur mourut un peu…

Par la suite, à Madrid, en 1927, rue Velázquez, n° 4, studio de Ramón Gómez de la Serna, durant une discussion avec Marichalar, Benjamín Jarnés, Maroto, le grand inventeur des greguerías dit : — « Nous savons ce qu’il ne faut pas faire en matière de roman… Antonio Espina, dans Pájaro pinto, et Arqueles Vela, dans El intransferible, défrichent la voie… »

Ainsi, El intransferible devait être publié à Madrid… mais, parce qu’il appartenait à la bande républicaine du Café Saboya, aux côtés de Valle-Inclán, García Lorca, Martín Luis Guzmán, Ortega, l’auteur, expulsé d’Espagne, entreprit un autre voyage et mourut, encore une fois, un peu… Ensuite, à Paris, à l’Ambassade du Mexique, à la fin d’une lecture de El intransferible devant Alfonso Reyes — alors ambassadeur —, Carlos Pellicer, Germán Cueto, Manuel M. Ponce et Miguel Ángel Asturias, les éditions París-América s’offrirent de le publier. Mais… tandis que l’on corrigeait les épreuves de la première édition, l’auteur, démis de son poste de correspondant à la Revista de Revistas et à Jueves de Excélsior par J. M. Durán y Casahonda, qui venait de prendre en charge la gérance du groupe de presse qui éditait les hebdomadaires cités, dépourvu de tout autre moyen de subsistance et de séjour, comme un autre condamné aux périples, abandonna Montmartre et La Rotonde, se lançant dans un autre voyage vers l’Allemagne et de nouveaux horizons inconnus… et mourut encore un peu…

À la fin de son moratoire sentimental, de retour à Mexico, quand l’un de ses plus grands amis éditeurs lui annonça que s’il publiait El intransferible, non seulement il irait en prison avec l’auteur, mais que l’on détruirait ses biens jusqu’à la cinquième génération, l’idée de jeter l’œuvre en pâture au public fut ajournée…

Mais voilà qu’un groupe denthousiastes jeunes gens, fondateurs des éditions Gama, décide de l’envoyer à l’imprimerie, courant le même risque que l’auteur… et la fait imprimer comme le roman posthume du stridentisme, cinquante ans après qu’elle a été écrite.

A. V.


Trad. de « Prenunciación »
préf. d’Arqueles Vela [1899-1977]
à El intransferible
(La novela inédita del estridentismo)
Mexico, Editorial Gama, 1977, 157 p.
(achevé d’imprimer le 15 août 1977, tiré à 3000 ex.)

Première et unique édition en espagnol.

Traduction française en préparation, pour l’éditeur inconnu.

5 juin 2018

1933 : le moment prolétarien dans les lettres brésiliennes


Pour célébrer l’imminente parution
de
Patrícia Galvão (Pagu)
Parque industrial
romance proletário
dans une
nouvelle édition brésilienne
retour en 1933
avec un
feuilleton critique
de
Geraldo Ferraz
tiré du journal
O Homem Livre

*
4 livraisons (en portugais) :

1933 : le moment prolétarien dans les lettres brésiliennes (4/4)


O lado demonstrativo das contradições

Na inconciencia de nossos literatos sempre andou uma certeza : nós não tomamos atitude na questão social nem ela nos interessa. A literatura é isto. Creação, inspiração, arte pela arte, etc. Hoje quem repetir assim continua dizendo bobagem.

Erigiu-se na literatura chamada passadista, em maximo da atividade literaria o humorismo de Machado de Assis, intelectual superior, com um desprêso absoluto pela alegria e pela dôr, sorriso safado de quem comeu e não gostou, mas finge que gostou. Essa literatura desestimulante, encontra mais tarde proseguidores nos modernistas, devido muito á facilidade da linguagem que transformara em feição humoristica o que se escrevia decalcando os modernistas estrangeiros. E Memorias sentimentais de João Miramar é a prova mais forte dessa afirmação, em seu vasio de comentario inutil.

Entretanto, o humorista sempre tomou partido, alguns póde muito bem ser que na inconciencia da nossa profunda ignorancia coletiva, mas outros na pirataria nacional da quasi colonia que precisava ir remando contra a maré enganando os trouxas entre as duas margens, dum lado o clero doutro a autoridade. Essa Autoridade que começava no funcionario publico de baixa categoria, que passava pelo soldado razo e de que usufruiam gôso no pais feudal e pobre o filho das familias ricas e as meretrizes dos homens importantes, o fazendeiro e o comerciante, o dono da renda e o presidente da Republica. Doutro lado o padre, gosando e comendo o Brasil por uma perna.

Mas o humorista sempre soube esconder o seu jôgo melhor que os outros.

* * *

Os literatos do periodo do nosso romantismo e mais tarde do periodo do nosso naturalismo eram grandemente amigos das classes que estavam de cima. Nas paginas de Macedo e de Alencar, nas de Aluisio e de Raul Pompeia, a escravidão negra era um mal necessário, a miseria da grande massa era hipócritamente ignorada, a submissão do indigena era exaltada, a fome sexual reprimida por uma psicóse ou sublimada no trama dos romances canalhas e superficiais. E assim por deante até o nosso modernista que escreveu a historia da alemã profissional que ensinava amor pro menino rico de Higienopolis. Literatos que recebia festinhas por isso…

Nenhum desvio na róta.

* * *

No genero muito apreciado do ensaista, a pêna de Jackson de Figueiredo se enfeitou com as galas da defesa diréta da igreja e de todo o seu obscurantismo, da propriedade privada e da exploração do homem pelo homem.

Afogado felismente Jackson de Figueiredo, outro ensaista Tristão Amoroso Lima de Ataide, juntou besteira na defesa da classe de piratas a que pertence, como grande industrial. Tornou-se o lider, o grande homem do clericalismo na terra. Deitou artigos e se encheu de autoridade critica.

A corrente antropofágica de São Paulo marcou época para os que tomaram parte nela e ficou como ponto de referencia na evolução natural do pequeno grupo. Maria Lôbo surgida depois com o seu livro desconcertante no equilibrio de uma linha marcada a unhas e dentes, tomou o nome do parque industrial de S. Paulo nos dando algumas aguas-fortes do que êle é em seu sub-solo inesplorado.

Dai pra cá mais nada.

No prefacio de Serafim a que me referi noutro dia, Osvaldo de Andrade agora escreve direito ainda por linhas tortas.

* * *

Todas essas diretrizes estão bem delineadas.

Hoje nos encontramos num angustiosa encruzilhada pensando o que escrever. Se nunca houve arte pela arte agora mesmo é que o concenito não cabe na camisa de onze varas em que se meteu o mundo. O literato some. A literatura brasileira se satura de livros de divulgação cientifica, e se esparrama nas traduções dos romances sensacionais de todos os paises. Os literatos paulistas ficam nos artigos de jornais. Alguns mais safados como Plinio Salgado, formam na corrente dos que procuram a harmonia social, sob a tutéla do Estado integral, e são Gustavo Barroso, Ribeiro Couto, etc.

O que está faltando aos literatos do meu pais, são as diretrizes claras e precisas impostas pelo momento historico universal.

Do catolicismo á « melancia organica », citada pelo amigo Serafim. E dai, o rumo para onde nos levam as consequências deste tempo do barulho é aquêle da realidade objetiva da vida, no seu lado demonstrativo das contradições economicas de todos os dias.

Geraldo Ferraz.


Texte original (graphie non actualisée) tiré de :
O Homem Livre, São Paulo
1e année, n° 9, 24 juillet 1933
rubrique « Literatura », p. 3

(Lire les livraisons précédentes : 1, 2, 3.)

1933 : le moment prolétarien dans les lettres brésiliennes (3/4)


« Na maré alta da ultima etapa »

Escolho para titulo desta seção de literatura hoje uma frase solta de Serafim Ponte [Grande], o romance de Osvaldo de Andrade que a estas horas já deve estar á venda nas livrarias. É que a publicação dêste livro constitue um acontecimento notavel, embora esteja um tanto desambientada a concepção, do mais completo romance que as letras modernistas produziram no pais. E assim esta seção fica dedicada ao aparecimento de Serafim Ponte [Grande]. A frase colocada no alto destas colunas é a definição da situação atual do mundo, dentro da qual e em conflito com a qual se coloca Serafim, o pequeno burguês brasileiro, tipico, tão humano como dom Quixote, representativo como qualquer um desses tipos da fição, que monopolizaram o simbolo da duvida de Hamlet, do romantismo no joven Werter e tão real como a Bovari do naturalismo francês. « Na maré alta da ultima étapa » é verdadeiramente a tradução literaria da definição materialista, desse « traço carateristico da nossa época », ultima étapa do capitalismo…

Produto de uma fase de debate da nossa literatura, o livro de Osvald do Andrade, entretanto, escapa completamente aos moldes transitórios, artificiais, das obras produzidas durante as agitações renovadoras, para se situar num periodo de amadurecimento, que é o periodo de estratificação do proprio escritor, fragmentário em Memorias sentimentais de João Miramar, e nas poesias indecisas de Páu Brasil.

A definição materialista que me vem preocupando desde o titulo, é amostra de atitude diferente agora mantida pelo romancista. Faz parte do prefácio, escrito neste ano, como profissão de fé que o autor achou necessária para justificar a publicação de Serafim.

Em 1928 se estava atravessando a primeira fáse da antropofagia, quando ela era considerada atitude inteletual sem divergencias, dentro da qual cabiam desde o futil escritor Antonio França Junior de Alcantara Machado, o poetinha Guilherme de Almeida e o autor de Macunaima que só entrára no brinquedo, como me confessou, para manter o « aplomb* »… Lógo porém se processava a definição de certas tendencias mais decisivas e se dava a desagregação. Quando Raul Bopp e Osvald de Andrade me propuzeram a fatura da « Pagina de antropofagia », a desagregação daqueles elementos já se déra, na heterogeneidade evidente, diante da intransigencia dos antropofagos que não papavam hostia nas missas de Santa Cecilia, e deixavam de lado os « salões da nossa melhor sociedade ». Pra diante os antropofagos dando de fazer propaganda de algumas idéas tidas como avançadas, tais como o exame pré-nupcial, a educação sexual e outras coisas assim, a direcção do Diario de S. Paulo, com o gerente Orlandinho Dantas, á frente, poz na rua o grupo que perpetrava, para goso dos pais de familia, a escandalosa literatura semanal da corrente antropofagica. O ciclo assim encerrado, em escaramuças que tiveram duração de poucos mêses, deu entretanto alguns livros e exarcebou maiores pesquizas. Freud fôra posto de lado, em contáto com Jung, Politzer e Adler. Preocupavam-nos mais os teoristas da Gelsttat e da behaviour. Serafim é bem dêsse periodo, não importando que fôsse começado antes, pois me recordo de capitulos inteiros publicados ai em 1926 no finado Jornal do Comércio, onde Osvald escrevia a « feira das quintas ».

Só então Serafim ganha ultima forma. Lembro-me que ai o escritor destruiu a pagina da dedicatória, a « ilustre dama paulista ».

Logo de frente, Macunaima, de Mário de Andrade, se torna uma obra sem interesse para o leitor de hoje. Os golpes militares nos aguçaram mais as sensações e não é qualquer pastiche de folclore tomado dos « nhengatu’s » que nos vá impressionar agora. Mas Serafim é diferente. É um sujeito jogado na maré alta da ultima etapa, que vive e se agita entre as contradições econômicas da grande terra pobre, recalcado e imoral, deflagrando a sua existencia em moles aventuras sexuais, perturbado por um passado sofredor e praticando ofensivas vibrantes em busca de solução para o seu conflito interior de incontentado.

Toda uma antologia dessas angustias que cruciam a pequena burguesia da terra do café, classe média oscilante e depositária das instabilidades morais e materiais da nacionalidade informe, passa como um filme minucioso aos olhos de quem lê. A camera lenta descreve em requintes de estilo « moderno » a noite de amor em frente ao mar, primeiro desabafo Serafim gosando, e nos dá as descrições adjetivosas e transparentes da viagem ao Oriente e a visita ao Santo Sepulcro, onde um guarda informativo esclarece Serafim que Cristo nasceu na Baia… A revolução de 1924 tem paginas de estilo heroico, e o casamento de Serafim á vasado num « schetch » de efeito escandaloso, como o áto teatral de Serafim perante a Justiça por causa do cachorrinho Pompeque.

As paginas de bordo têm analogia com as do « Terremoto Doroteu », se dando nelas a exteriorização da vida tortuosa e torturada de Serafim, que o romance de Dorotéa nos mostra em toda a extensão de seus tumultos provocados pelas contingencias domesticas, povoadas de pontos de referencia cujos pólos se situam na mulher com quem casou, e na outra que aparece, a « unica declamadora diseuse com temperamento que possuimos ».

Para terminar, eu acredito que não teremos tão proximamente em nossa literatura um recorde igual de invenção e realização do que êste que Osvald conseguiu realizar, desmandibulando os nossos literatos modernos, e a corja sem nome dos coelhosnetos que ainda pulula pelo pais despoliciado. É o documento do estado atual da classe média, no que poderia haver de mais notavel como literatura moderna do Brasil tambem em sua ultima etapa. Daqui pra diante, a historia será outra.

Continuaremos a traçar nossas « diretrizes » de que nos afastámos para prestar a atenção que merece o fabuloso humorista que creou a figura caricatural e realista deste Serafim satirizado. O boêmio-burguês se vingou da classe média no livro, e se voltou numa atitude perfeitamente logica para o proletariado, no prefacio sincéro, que relata a evolução operada nos cinco anos transcorridos da ofensiva antropofagica á adesão conciente ao marxismo e suas consequências.

Geraldo Ferraz.


Texte original (graphie non actualisée) tiré de :
O Homem Livre, São Paulo
1e année, n° 8, 17 juillet 1933
rubrique « Literatura », p. 3

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