5 juin 2018

1933 : le moment prolétarien dans les lettres brésiliennes (4/4)


O lado demonstrativo das contradições

Na inconciencia de nossos literatos sempre andou uma certeza : nós não tomamos atitude na questão social nem ela nos interessa. A literatura é isto. Creação, inspiração, arte pela arte, etc. Hoje quem repetir assim continua dizendo bobagem.

Erigiu-se na literatura chamada passadista, em maximo da atividade literaria o humorismo de Machado de Assis, intelectual superior, com um desprêso absoluto pela alegria e pela dôr, sorriso safado de quem comeu e não gostou, mas finge que gostou. Essa literatura desestimulante, encontra mais tarde proseguidores nos modernistas, devido muito á facilidade da linguagem que transformara em feição humoristica o que se escrevia decalcando os modernistas estrangeiros. E Memorias sentimentais de João Miramar é a prova mais forte dessa afirmação, em seu vasio de comentario inutil.

Entretanto, o humorista sempre tomou partido, alguns póde muito bem ser que na inconciencia da nossa profunda ignorancia coletiva, mas outros na pirataria nacional da quasi colonia que precisava ir remando contra a maré enganando os trouxas entre as duas margens, dum lado o clero doutro a autoridade. Essa Autoridade que começava no funcionario publico de baixa categoria, que passava pelo soldado razo e de que usufruiam gôso no pais feudal e pobre o filho das familias ricas e as meretrizes dos homens importantes, o fazendeiro e o comerciante, o dono da renda e o presidente da Republica. Doutro lado o padre, gosando e comendo o Brasil por uma perna.

Mas o humorista sempre soube esconder o seu jôgo melhor que os outros.

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Os literatos do periodo do nosso romantismo e mais tarde do periodo do nosso naturalismo eram grandemente amigos das classes que estavam de cima. Nas paginas de Macedo e de Alencar, nas de Aluisio e de Raul Pompeia, a escravidão negra era um mal necessário, a miseria da grande massa era hipócritamente ignorada, a submissão do indigena era exaltada, a fome sexual reprimida por uma psicóse ou sublimada no trama dos romances canalhas e superficiais. E assim por deante até o nosso modernista que escreveu a historia da alemã profissional que ensinava amor pro menino rico de Higienopolis. Literatos que recebia festinhas por isso…

Nenhum desvio na róta.

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No genero muito apreciado do ensaista, a pêna de Jackson de Figueiredo se enfeitou com as galas da defesa diréta da igreja e de todo o seu obscurantismo, da propriedade privada e da exploração do homem pelo homem.

Afogado felismente Jackson de Figueiredo, outro ensaista Tristão Amoroso Lima de Ataide, juntou besteira na defesa da classe de piratas a que pertence, como grande industrial. Tornou-se o lider, o grande homem do clericalismo na terra. Deitou artigos e se encheu de autoridade critica.

A corrente antropofágica de São Paulo marcou época para os que tomaram parte nela e ficou como ponto de referencia na evolução natural do pequeno grupo. Maria Lôbo surgida depois com o seu livro desconcertante no equilibrio de uma linha marcada a unhas e dentes, tomou o nome do parque industrial de S. Paulo nos dando algumas aguas-fortes do que êle é em seu sub-solo inesplorado.

Dai pra cá mais nada.

No prefacio de Serafim a que me referi noutro dia, Osvaldo de Andrade agora escreve direito ainda por linhas tortas.

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Todas essas diretrizes estão bem delineadas.

Hoje nos encontramos num angustiosa encruzilhada pensando o que escrever. Se nunca houve arte pela arte agora mesmo é que o concenito não cabe na camisa de onze varas em que se meteu o mundo. O literato some. A literatura brasileira se satura de livros de divulgação cientifica, e se esparrama nas traduções dos romances sensacionais de todos os paises. Os literatos paulistas ficam nos artigos de jornais. Alguns mais safados como Plinio Salgado, formam na corrente dos que procuram a harmonia social, sob a tutéla do Estado integral, e são Gustavo Barroso, Ribeiro Couto, etc.

O que está faltando aos literatos do meu pais, são as diretrizes claras e precisas impostas pelo momento historico universal.

Do catolicismo á « melancia organica », citada pelo amigo Serafim. E dai, o rumo para onde nos levam as consequências deste tempo do barulho é aquêle da realidade objetiva da vida, no seu lado demonstrativo das contradições economicas de todos os dias.

Geraldo Ferraz.


Texte original (graphie non actualisée) tiré de :
O Homem Livre, São Paulo
1e année, n° 9, 24 juillet 1933
rubrique « Literatura », p. 3

(Lire les livraisons précédentes : 1, 2, 3.)

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