5 juin 2018

1933 : le moment prolétarien dans les lettres brésiliennes (2/4)


Diretrizes

A frase igual expressando a necessidade de « intervenção ativa » na vida do tempo que eu escrevi no numero anterior desta seção, é de Gorki, em Eux et nous. Não representa entretanto senão um pensamento muito generalizado e que os expressionistas da poesia alemã de logo depois da guerra puzeram nos seus poemas « humanizadores », já que não puderam ir além. É assim Franz Werfel e outros. Dêle o poema do desejo de ser parente do Homem, embora seja um negro, um acrobata, uma creança de peito, uma jovem que canta, um soldado ou aviador de coragem encarniçada… Já lembrei, no numero passado, o ponto de vista tambem « humanizador » de Lima Barreto, em nossas letras. Êle queria muito a compreensão espiritual dos homens. Mas sua pêna de humorista mergulhava muito fundo nessa « insondavel burrice humana » e assim é que nem sempre o idealista conseguia fazer da realidade de seus contos e romances esse elemento coordenador da ansia dos homens, que êle visava. Sua excelência é um importante exemplo de sua fôrça destruïdôra. Um parlamentar vai pra casa de automovel e a um certo ponto começa a dormir e sonhar que éra o chofêr. Então, chega na porta do Congresso e recebe servilmente o patrão… mas que delirante poder de destruïção na trama dessas tres paginas lentas e perfeitas !

Em mais de uma vez porém, Lima Barreto deixa patente como nunca em nossa literatura a contradição fundamental da sociedade que analisa (ex. Clara dos Anjos).

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Isso aconteceu ainda no romance escrito na banca de jornalista Numa e a ninfa em que focalisa aspectos interessantissimos do Rio de Janeiro, realizando uma ampla e vigorosa demonstração caricatural mas grandiosa do pequeno-burguês que vence na politica com os discursos escritos pelo primo, amante de sua mulher…

Muitos anos depois Osvaldo de Andrade escreverá Serafim Ponte Grande que é a fotografia animada e comentada do pequeno-burguês « na maré alta da ultima etapa ». Foi o escritor mais inteligente e imaginoso que tivémos depois de Lima Barreto. Não pôde ainda passar definitivamente para o lado da trincheira por lhe faltar base-ambiente. A sistematização da ironia graça « piada » que êle conseguiu grudar no panorama de suas possibilidades, é desses moldes que estão sempre fundindo a mesma coisa com a insistencia de uma matriz de linotipo.

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Está para aparecer o romancista que demonstre e vá acentuando em nossa « realidade brasileira », — tão igual as outras realidades de outros países em seus aspétos essenciais, todas as contradições econômicas qui crieam os conflitos sociais, pronfundamente humanos sempre, quer seja a conseqüência do amor insatisfeito, das ambições sem horizontes, da luta de classe, da revolta dos oprimidos.

E ao literato de hoje cabe ir entrando decisivamente nêsse terreno, porque é só por êle que teremos uma literatura que corresponda efetivamente aos momentos agitados da historia atual quando mais se aguçam aquelas contradições fundamentais, na logica do desenvolvimento da sociedade capitalista.

A literatura revolucionária em conteúdo, mas realista em sua mais ampla compreensão dos acontecimentos que interessam ao homem de hoje — canalizados todos nas linhas estruturais do regime em agonia, será essa. Desmascaramento audaz e decisivo, Passageiros de 3a, Petroleo, Judeus sem dinheiro, e é Gold, Upton Sinclair, Kurt Kleiber.

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Naturalmente é muito dificil que algum brasileiro logo vá publicando coisas revolucionárias como êsses escritores que estão muito longe dos nossos estreitos grupinhos intelectuais, onde sempre ha alguns caciques católicos e conseqüêntemente cretinos. Essa suficiencia de cretinismo está como uma super-censura na porta das redações dos jornais, onde se dá no Brasil o inicio da carreira literaria, e tambem na porta dos editores, êsses individuos calculistas e ambiciosos, que só querem fazer industria sem escrupulo algum e sem visão nenhuma. A gente que lê vai aceitando tudo. Nas seções bibliograficas dos jornais de novo o cretinismo o cretinismo católico e recalcado engole as iniciativas bem intencionadas e glorifica as « obras » de Paulo Setubal, de Viriato Corrêa, de Gustavo Barroso, de Menotti del Picchia e de outros heróis do romance das bandeiras e de outras coisas movimentadas do nosso passado.

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Um dêsses escritores me disse :

« A receita é esta. Leia-se um pedaço de historia de S. Paulo, periodo das bandeiras ou das bandalheiras de Pedro I. Depois se organize com apoio nêsses dados historicos uma historia heróica ou picante, com alcôvas bem cheirosas. Escrevam-se 300 paginas, e venda-se á Companhia Editora Nacional pela quantia de 3:000$000. »

É assim que se procede, criminosamente, ao envenenamento intelectual do leitor, produzindo-se baboseiras para enriquecer editores. Fóra dessa literatura sordida, os escritores de São Paulo não deram nêstes seis mezes de 1933 um romance, um livro, um artigo, póde-se dizer…

Geraldo Ferraz.


Texte original (graphie non actualisée) tiré de :
O Homem Livre, São Paulo
1e année, n° 7, 8 juillet 1933
rubrique « Literatura », p. 5

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